quinta-feira, 19 de março de 2009

Hoje sinto saudades

daquilo que não vivi. Dos momentos em que não o entendi como homem e como pai. Momentos que a vida não nos deixou viver.
Hoje sinto saudades de não ter nascido mais cedo para o conhecer como adulta. Para me recordar melhor de si. Para ter o que contar á sua neta de si.
Hoje sinto saudades dos anos que não tive consigo, que a vida, ou melhor a morte, nos roubou.
Hoje sinto pena de mim por ter permitido que a dor da sua ausência apagasse as memórias dentro de mim.
De si ficou-me a recordação do cheiro a perfume quando se arranjava para sair e do odor a terra e suor, que não me era desagradável, quando chegava a casa depois de um dia de trabalho. Das suas mãos pequenas, rugosas. Do seu cabelo preto, escondido pelo sempre presente chapéu. Da camisa de trabalho amarela. Do seu último Verão.
De si ficaram as recordações guardadas na memórias dos meus irmãos e que eu tento absorver quando falam de si. Porque aos 17 não reparamos nas pessoas que nos rodeiam. Que vivem efectivamente connosco. Porque aos 17 não pensamos que a morte há-de vir e roubar parte do nosso futuro e do nosso passado conservado pelas memórias. Porque a morte não deveria vir assim sem aviso.
De si ficou dentro de mim a bondade. O amor aos filhos. E disso eu nunca me vou esquecer.

6 comentários:

Pietra disse...

Lindo! Fiquei com uma lágrima no canto do olho...

Ana Raquel disse...

Tudo escrito com alma, muita alma!!!!
Não consigo fazer mais comentarios...
Bjinhos

Mamã da Tartulhinha disse...

Que homenagem tão linda. Tenho um nó na garganta e não consigo escrever mas nada...

Beijocas nossas.

Luz de Estrelas disse...

Lindíssimo e comovente. Obrigada pela visita.

Ana disse...

Muito bonita essa homenagem... diz tudo!!!

Obrigada pela tua visita!! Volta sempre...

Beijocas

R disse...

Uma sentida reflexão no Dia do Pai. De facto numa certa idade não estamos muito virados para a família, andamos mais preocupadas a pensar em nó e nas nossas coisas, o que é próprio da idade. Quando perdi o meu pai, tinha mais 10 anos do que tu, já estava noutra fase da vida. Era mãe e a nossa forma de estar na vida é outra. Damos mais atenção aos nossos pais e de um modo geral às pessoas. Gostei do post. Um beijinho