terça-feira, 30 de junho de 2009

A coroa da Santa

Detesto quando ajo em função dos costumes e não daquilo em que acredito.
Eram 9 da noite quando tocam à campainha. Surgem duas senhoras da minha aldeia. Vinham, segundo me disseram, em nome de todas as mulheres lá da terra. Nessa altura comecei a lembrar-me das "mulheres de Bragança". Afinal não tinha nada a ver. Estavam a fazer um peditório para comprar uma coroa para a Nª Srª da Conceição uma santa da Igreja da aldeia.
- Coitada da Santa! Então ela não tem coroa? - Não consegui deixar de ser irónica, mas elas não fizeram caso. Lá continuaram a dizer que até já a tinham mandado fazer e era assim para o "carote".
E foi aqui que eu errei. Em vez de lhes dizer que na minha opinião quem tem de comprar esses acessórios é a Igreja e não o povo, em vez de dizer que a Santa deveria preferir que ajudassem alguém com o dinheiro da coroa, em vez de dizer que deviam guardar o dinheiro para as pessoas que realmente passam necessidades, em vez de aconselhar essas senhoras a gastarem o tempo a fazer algo mais útil para a comunidade, colaborei nesta acção. Doei pouco, mas mesmo assim arrependo-me de cada cêntimo gasto com isto. Perdi a oportunidade de mostrar o meu ponto de vista e talvez alterar a forma pequenina de pensar de algumas pessoas. Fiz aquilo que vi fazer toda a minha vida e não consegui cortar com isso. E apesar de ter feito aquilo que era esperado de mim, sinto-me mal. Porque detesto agir assim. Porque eu não quero ser assim!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Trabalho Infantil?

A Bia está de férias desde o dia 19. Se para ela é uma alegria para nós, pais, é uma preocupação a mais. Durante o período escolar a Bia frequenta o ATL até à hora em que saímos do trabalho. Contudo assim que começam as férias recusa-se a ir para lá. Justifica-se com a ausência de parte dos coleguinhas que durante as férias fica com os avós ou outros familiares. Além disso detesta almoçar lá pois obrigam-na a comer quase tudo e isso é o maior problema para ela. Assim optámos por deixar que ela fique em casa durante este mês pois não estará sozinha. Até ao final de Junho terá a avó lá em casa.

Resolvemos então fazer uma lista de tarefas para ajudar a passar o dia. O motivo principal é evitar que esteja o tempo todo a ver tv ou a jogar no pc. Assim algumas das tarefas são:

- Fazer as camas

- Arrumar o quarto

- Levantar a louça da mesa e varrer o chão da cozinha depois de almoço

- Fazer uma ficha do livro de actividades das férias proposto pela professora

- Praticar violino

Na verdade parte das tarefas têm ficado por fazer mas tenho insistido todos os dias. Parece-vos muito para uma menina com 8 anos? Penso que mal não lhe fará e ainda que os trabalhos não fiquem muito bem feitos serve para ela se ir habituando. Como diz a minha mãe: "O trabalho do menino é pouco, mas quem o despreza é louco".

terça-feira, 23 de junho de 2009

É tão bom ser criança outra vez!

Com a chegada dos dias quentes surge a vontade de ir até à praia ou de fazer piqueniques. Contudo este fim de semana ainda não foi possível e acabámos por passar o domingo em casa. Estendemos uma mantinha na relva, debaixo do limoeiro, onde a sombra era mais fresca, e aproveitámos para ler e descansar. Ou pelo menos tentámos. O energia inesgotável da Bia não nos deixou estar sossegados muito tempo. Depois de alguma insistência aceitei brincar com ela. E a brincadeira não podia ser mais divertida. Ela corria atrás de mim pelo jardim com a mangueira da água ligada, tentando acertar-me. Depois trocávamos. E o que nos rimos! Até a minha mãe, que entretanto nos chamava de doidas, ameaçava com pneumonias e lembrava o desperdício de água, não conseguiu deixar de sorrir quando tive que pedir tréguas à minha filhota pois ela molhava-me sem dó nem piedade. De seguida devíamos mudar de roupa, não era? Pois, mas como a diversão ainda não tinha acabado, decidimos secar baloiçando-nos. E eu descobri que andar de baloiço com a minha menina é mesmo muito bom!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Filhos criados

trabalhos dobrados. O ditado nunca me pareceu tão certo. É verdade que a Bia ainda é pequena mas à medida que vai crescendo vou apanhando mais sustos. O episódio do post anterior ficou resolvido e as crianças continuam amigas. Contudo valeu pela chamada de atenção.
O susto deste fim de semana foi um pouco maior. Na brincadeira com o primo a Bia sofreu uma queda. Já teve muitas, maiores, mas nunca com estas consequências. Caiu com a boca no chão, feriu o lábio e lascou os dois dentes incisivos frontais. Não foi muito e talvez nem seja necessário reconstruir mas apesar disso o susto foi enorme. E ela chorou tanto! Pela dor física e pelo facto de ter danificado os dentes. Os ralhetes do pai também não ajudaram muito e foi preciso que eu falasse com ela por diversas vezes para ela aceitar e compreender que não é assim tão grave. Acima de tudo não quero que ela tenha complexos ou traumas com o que aconteceu. Amanhã iremos ao dentista e espero que tudo se resolva rapidamente para esquecermos este assunto.
Quanto a mim, apesar de ainda não serem visíveis, devo ter ganho um par de cabelos brancos. E pelo andar das coisas muitos outros se seguirão!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Não sei se rio

ou choro. O facto é que ainda estou em choque.

Ontem ao final da tarde a Bia chamou um amiguinho, que é nosso vizinho, para vir brincar no nosso jardim. O D. é da idade da Bia e conhecem-se desde pequenos. Embora não frequentem a mesma escola estão muitas vezes juntos, pois temos amigos e familiares em comum. Ontem a brincadeira acabou cedo porque ele não soube aceitar um não.

Com apenas 8 anos a minha filhota já começa a despedaçar corações. Ele, com apenas 8 anos, não aceitou que ela já tenha o coração ocupado. Ele pediu-lhe namoro, ela disse que não.

Era tudo muito engraçado se tivesse ficado por aqui. No entanto, o doce de menino que ele parecia, transformou-se num chantagista. Do alto dos seus 8 anos informou-a que tinha até sábado para mudar de ideias. Ou aceita namorar com ele ou ele fala com uns amigos que tem e assaltam a casa dela. Pois é! E não são uns simples amigos, disse ele. São adultos e muito maus. E com isto foi-se embora.
Ela correu para dentro a contar-me. Assustada levou a ameaça a sério. Falei com ela e ajudei-a a ver que não passava de simples chantagem. Nem ele tem amigos adultos, nem eles fariam uma coisa dessas. Mais importante que isso tentei mostrar-lhe que nunca devemos ceder a essas ameaças e quem faz esse tipo de coisas não gosta realmente de nós. Depois de reflectir no que conversámos disse-me que achava melhor contar aos pais dele. A seguir pensou melhor e achou que o ideal seria contar eu. Com a decisão do que fazer tomada ficou descansada e parece-me que está bem.
Eu, que no inicio até me ri, fiquei preocupada. Começam cedo os problemas sentimentais da minha menina. Começam cedo as pressões, chantagens e tentativas de mudar a sua vontade. E que dizer deste menino? Devemos desdramatizar o assunto ou preocuparmo-nos com o futuro adulto que ele será? Devo chamar-lhe atenção ou falar mesmo com os pais? Devo deixar que sejam as crianças a resolver o assunto ou interferir?

O que lamento mais que tudo é que a amizade entre eles tenha acabado. É que a maneira como eu via o D. se tenha alterado. É que a maldade tenha lugar na mente de crianças tão pequenas. Estou a exagerar? Talvez, mas o sentimento de protecção em relação à minha filha é maior que tudo o resto.