quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um blog / um livro para ler e chorar...


Choque de emoções
“para Francisco,” de Cristiana Guerra (Arx, 190 pág.)

A publicitária mineira Cristiana Guerra é uma jovem de cabelos curtos, com o corpo delgado coberto de tatuagens, dotada de uma virtude aperfeiçoada pela profissão - a de escrever com aquela graça, leveza e espirituosidade que fazem tudo parecer um pouco melhor. Mas não é isso que faz de “para Franscico,” um dos melhores livros publicados este ano no Brasil, senão o melhor. A leveza do seu pequeno diário é apenas o ingrediente necessário para ficarmos entre as lágrimas e o sorriso, jogo de emoções que nos confunde e se confunde com os extremos a que nos leva a vida.Cristiana viveu extremos da alegria e da tristeza ao mesmo tempo, que lhe deixaram uma marca pelo resto de sua vida. Em julho de 2007, quando estava grávida de oito meses, seu namorado Guilherme morreu subitamente. Num fatal sincronismo do destino, ela cultivou o luto da perda e a felicidade de ser mãe pela primeira vez. Nem o mais frívolo leitor, aquele que é capaz de passar para trás uma velhinha na fila ou tirar o picolé de uma criança, ficaria indiferente.Desde então, Cristiana resolveu escrever um blog, no qual dirige cartas ao pequeno Francisco, nascido órfão, a pretexto de contar quem era seu pai. Cristiana escreve primeiro para ela mesma, para lidar com as emoções e, como diz, para “não esquecer”. Narra pensamentos e as pequenas coisas do dia a dia, que ganham nova dimensão com a influência simultânea da tragédia da morte e do milagre da vida.O blog “para Francisco,” (http://www.parafrancisco.blogspot.com) ganhou muitos leitores virtuais em todo o país, comovidos com a sinceridade, a coragem da autoexposição e a fantasia lírica de uma jovem mãe que, sob o impacto da tragédia, escreve para um filho que ainda não pode entendê-la. Transformado em livro, “para Francisco,” é uma compilação concisa e forte dessa correspondência imaginária. Traz à luz uma dupla história de amor: a primeira pelo amor perdido, a outra pelo filho recém nascido, que, como ela diz, “fez do fim um começo”. É um documento refinado e pungente dos mais puros sentimentos humanos e um apelo contra o tempo. Em suas cartas ao filho inocente, Cristiana coloca-se na alma aflita do escritor: “pressa em falar para Francisco de seu pai, sobre o mundo e sobre mim mesma (só por garantia)”. Feita de sensibilidade nos mínimos detalhes, sua correspondência transmite a sensação de que podemos fazer da vida algo melhor, mesmo quando enfrentamos o pior. Com a necessidade de dividir seus sentimentos, Cristiana não ajuda apenas a si mesma ou ao filho, que poderá aprender com sua história, conhecer o pai pelos diários da mãe e aprender a lidar com sua perda precoce. Levada por força do destino a aprender rápido, ela chega à única receita eficaz para lidar com o sofrimento. Descobre que a única coisa que nos consola diante das grandes perdas é cuidar daqueles que estão vivos.Dirigido a uma criança de colo, ou à sua própria autora, “para Francisco,” é também uma obra que ajuda todos nós.

1 comentário:

Pietra disse...

Já fui dar uma espreitadela ao blog, mas como estava a ser difícil conter as lágrimas, preferi não ler mais... fica para um dia em que esteja totalmente sozinha e com o espírito mais insensível.
Obrigada por partilhares este blog!
Bjs